terça-feira, 24 de maio de 2011

África, berço da humanidade

Lembre e reflita sobre o que você viu na escola e em seus livros quando algum professor mencionava a espécie humana. Ele fazia a identificação da espécie com a imagem do homem branco. Teorias pseudocientíficas de hierarquia entre as “raças” destituíam o africano de sua condição humana. Na mais generosa hipótese, ele e outros povos “selvagens” ou “primitivos” seriam classificados como seres sub-humanos ou irremediavelmente inferiores. Enquanto protagonista da história e da civilização, o ser humano era tido como branco quase por definição.
Mas você vai aprender que o conhecimento científico, ao contrário, indica a África como berço da humanidade e do desenvolvimento civilizatório. Ao mesmo tempo, ele nos demonstra que a velha divisão da humanidade em diferentes “raças” carece de fundamento biológico, constituindo, na verdade, construção histórica, cultural e social.
Já no século XIX, a teoria da evolução das espécies postulava a possibilidade de uma lenta transformação de espécies de símios em seres cada vez mais humanos. A idéia era separar o ser humano da família dos macacos, em tempos relativamente recentes.
Nas décadas de 1960 e 1970, o descobrimento e a análise de restos fósseis dos hominídeos (espécies que antecedem os seres humanos modernos), de seus ambientes e dos objetos por eles criados, permitiram construir uma idéia mais precisa de evolução e do avanço técnico desde há cinco milhões de anos.
Verifica-se assim, - passando por ancestrais pertencentes a várias espécies do gênero Australopithecus e às espécies primitivas do gênero Homo (desde o Homo habilis até o neandertal e seus pares) - que o caminho evolutivo conduz o Homo sapiens ao homem moderno. Hoje é consenso que esse processo evolutivo teve seu começo na África. Há quase dois milhões de anos, o Homo erectus, hominídeo autor de importantes avanços na manufatura de implementos como o machado, saiu da África em ondas migratórias rumo à Ásia e à Europa, assim iniciando o povoamento do mundo.
O consenso científico sustenta que o homem moderno (Homo sapiens sapiens) também evoluiu na África e de lá saiu, há mais ou menos150 mil anos, em uma segunda fase de ondas migratórias através da Eurásia. Além das ossadas fósseis, os mais antigos indícios de cada aspecto de sua presença, desde a manufatura de implementos até a arte primitiva, encontram-se na África. Ademais, as pesquisas na área da genética, indicam nitidamente uma origem comum do homem moderno na África, complementando as outras evidências. Uma das mais destacadas equipes de pesquisa genética concluiu que a transformação de formas arcaicas de Homo Sapiens em formas modernas ocorreu primeiramente na África, (...) e todos os humanos de hoje são descendentes daquelas populações. (WILSON, apud. LEAKEY, 1995, p. 99).
Ao espalhar pela Eurásia, os humanos que saíram do continente africano deram início a um processo de intercâmbios genéticos o qual não cessou até hoje. Tal intercâmbio resultou no aparecimento de características novas às populações locais. Há aproximadamente trinta mil anos, aparecem os primeiros vestígios de criação artística, assinalando nova fase no desenvolvimento da vida humana.
Por volta de dez mil anos atrás, encontram-se os primeiros indícios da prática agrícola. É mais ou menos nessa época que verificamos a presença no Brasil de uma antiga população humana. Na década de 1970, foram encontrados em Minas
Gerais os restos, datados de uns doze mil anos atrás, de uma mulher que passou a ser chamada Luzia.
A face de Luzia, reconstituída em 1999, revela o que os cientistas brasileiros antes julgavam “inconcebível”: feições nitidamente negróides. Ela fazia parte de uma população que teria chegado ao continente sul-americano há mais ou menos quinze mil anos através do Pacífico. Pertenceria, talvez, à mesma matriz populacional negra dos indígenas da Austrália, do sudeste da Ásia, e das ilhas da Indonésia e Timor. Esse fato surpreendeu a comunidade científica por contrariar a teoria antes vigente de uma origem única dos povos das Américas, em migrações posteriores de tipos mongolóides vindos da Ásia pelo Estreito de Bering. Entretanto, no contexto da história das migrações humanas primordialmente originárias da África, a identidade negróide e miscigenada do povo de Luzia não causou nenhum espanto.

Raça, verdade científica ou invenção ideológica?
A idéia das chamadas raças humanas surgiu quando cientistas europeus quiseram categorizar as diferenças entre os seres humanos oriundos de regiões afastadas da Europa. Aparências distintas foram associadas a supostas diferenças biológicas, constituindo o conceito geográfico de “raça”. Imaginouse uma hierarquia de capacidade intelectual e civilizatória em que as raças não européias seriam classificadas como inferiores. A idéia da superioridade da raça branca, supostamente comprovada pela ciência, passou a justificar procedimentos de dominação de outros povos, como a escravidão, a conquista, o colonialismo e o imperialismo. Hoje, o peso esmagador dos dados científicos fundamenta os seguintes pontos de consenso:
A interação e miscigenação entre grupos humanos desde tempos remotos, ao contrário do suposto isolamento das populações oriundas de regiões específicas, esvazia a noção das raças geográficas. Os seres humanos pertencem todos à mesma espécie. O maior peso da opinião científica indica que eles evoluíram de uma ancestralidade comum iniciada na África.
É maior a gama de variações genéticas ligadas às habilidades humanas dentro de qualquer “raça” específica do que entre as raças geográficas. Os dados científicos indicam apenas diferenças minúsculas entre as “raças” geográficas, e essas diferenças não estão ligadas à capacidade intelectual ou à personalidade e constituição psicológica das pessoas.

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